Hobby atrai apaixonados por 'mundo em miniatura' no Vale

O advogado Sérgio Gonçalves, 43, de Taubaté, em meio à sua coleção de miniaturas
O advogado Sérgio Gonçalves, 43, de Taubaté, em meio à sua coleção de miniaturas Foto: Thiago Leon
Praticantes montam de carros a aviões e até navios militares em escala reduzida; coleções são guardadas como relíquias
Xandu Alves
São José dos Campos


Eles constroem sonhos em miniatura. Alçam voo, mergulham nas profundezas do mar e vão às estrelas com seus modelos do real. Fazem principalmente do plástico a ferramenta com que dão vida à criatividade. Como construtores do mundo de Gulliver, os plastimodelistas fazem pequeno para sonhar grande.
Montar aviões, carros, navios, tanques e até espaçonaves em escala reduzida é o terceiro hobby com mais praticantes no mundo. Só perde para o aeromodelismo (miniaturas que voam) e o ferreomodelismo (trens).
Não se sabe quantas pessoas na região se dedicam à atividade, mas 53 delas são associadas à IPMS-São José, que é filiada à International Plastic Modelers Society, entidade internacional que congrega modelistas do mundo todo.
No Vale, eles se reúnem no último domingo de cada mês no MAB (Memorial Aeroespacial Brasileiro), em São José, para trocar experiências, peças e contar as novidades. Ainda organizam uma exposição competitiva em abril.
Ao lado de suas criações, gente como o desenhista e empresário Lauro Ney Batista, 50 anos, volta a ser criança por alguns instantes, embora construir modelos não seja brincadeira para eles. “Nenhuma outra atividade estimula o conhecimento em tantas áreas do conhecimento humano”, diz.
Batista, que já teve 100 aeronaves em casa, se dedica agora a construir aviões da 2ª Guerra Mundial, uma das épocas históricas preferidas dos modelistas. “Usamos kits prontos ou criamos as peças observando o modelo real”, conta ele.
Com 419 miniaturas em casa, sendo que 296 esperam para ser montadas, o engenheiro mecânico Ney Ferreira, 50 anos, é apaixonado por veículos militares, como tanques, caminhões e embarcações.

Empresário Lauro Ney Batista, 50 anos, volta a ser criança em meio aos aviões em miniatura
Empresário Lauro Ney Batista, 50 anos, volta a ser criança em meio aos aviões em miniatura Foto: Warley Leite

Cenários. Também tem uma queda por dioramas, que são os cenários criados em escala reduzida. Um deles, uma cena do filme “Band of Brothers”, ele demorou dois anos para montar e vendeu para um insistente médico numa feira em Santos. “Ele ofereceu R$ 5.000 e não pude recusar”, afirma.
Mas vender modelos não é característica dos colecionadores. Eles não se importam em ganhar dinheiro com o hobby. Pelo contrário. Gastam milhares de reais se a peça for rara o suficiente para merecer o investimento.
“Trouxe três malas gigantes com mais de 100 kits dos Estados Unidos em 2011. Fui em uma competição internacional e comprei muito. O preço estava bom lá, mas a Receita Federal não perdoou aqui. Paguei mais de R$ 1.000 em imposto”, conta o advogado Sérgio Gonçalves, 43 anos, de Taubaté.
Outra “loucura” fez o advogado e piloto Laércio Tavares, 51 anos, modelista desde a infância. Ele foi de ônibus ao Paraguai para comprar cinco modelos e um aerógrafo.
Mas quem tem literalmente a cabeça nas “nuvens” é o engenheiro Glauco Novaes, 44 anos, de Jacareí, apaixonado por ficção científica. O vilão Darth Vader e a nave de Luke Skywalker estão entre seus modelos preferidos. “Montar é quase uma terapia”, diz.

O engenheiro Ney Ferreira, 50, é um apaixonado por veículos militares, como tanques e navios
O engenheiro Ney Ferreira, 50, é um apaixonado por veículos militares, como tanques e navios Foto: Warley Leite

SAIBA MAIS

Plastimodelismo
Montagem de modelos em escala reduzida, de diversos materiais, seguindo ou não um kit de peças prontas

VariedadeOs modelos podem ser aviões, helicópteros, navios, carros, motos, tanques de guerra, naves espaciais, entre outros

DioramaCenários montados com peças em escala que representam passagens históricas, acontecimentos reais ou de ficção

HobbyPlastimodelismo é considerado o terceiro maior hobby em número de praticantes no mundo, perdendo apenas para aeromodelismo (aviões em escala que voam) e ferreomodelismo (trens em miniatura)

ConhecimentoOs praticantes citam o incremento cultural como um dos benefícios do plastimodelismo, que envolve várias áreas do conhecimento

AssociaçãoNa região, 53 colecionadores são filiados à regional do IPMS (International Plastic Modelers Society), que congrega modelistas de todo o mundo
Advogado quer criar ‘museu’ em TaubatéTaubatéA coleção de modelos em miniatura do advogado Sérgio Gonçalves, 43 anos, de Taubaté, assombra até os próprios colecionadores. Ninguém tem mais peças montadas do que ele. São 1.629 kits espalhados pela casa e o escritório.
Aviões comerciais e aeronaves militares formam 95% da coleção. O restante é de helicópteros. Todos devidamente acomodados em prateleiras.
Engana-se, porém, quem imagina Gonçalves como um piloto frustrado. Apaixonado pela aviação, ele se orgulha em ser um “plastimodelista feliz”.
“Me agrada poder passear pelas diversas eras da aviação, civil ou militar, ou mesmo criar o que não existiu”, diz ele.
“Nesta coleção, tenho o privilégio de possuir colaborações de modelistas que, como eu, dão o melhor de si neste hobby histórico, em respeito e admiração à aviação.”
Avaliada em R$ 350 mil, a coleção de Gonçalves não está à venda. Por nada nesse e nem do outro mundo.
Ao contrário, o advogado já pensa em conseguir espaço e deixar para a posteridade suas peças e a de outros modelistas. “O Hangar de Plástico será um museu de kits”, conta.

O MARUJO

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